O Pensamento Fléxível na Arte de Liderar

É bem provável que você nunca tenha ouvido falar do general americano Stanley McChrystal. Ele é famoso por ter revolucionado a guerra moderna com táticas nada convencionais para a época. Além de invadir posições inimigas, também invadia telefones, computadores e aperfeiçoou o processo de tomada de decisão exigido para esses ataques. Encerrou sua carreira como comandante das forças internacionais dos Estados Unidos no Afeganistão e do Comando Conjunto de Operações Especiais, que está acima da Delta Force, dos Rangers e dos Navy Seals. Suas equipes capturaram nada menos que Saddam Hussein e o líder da Al Qaeda.

O modelo de liderança do general McCrystal se destacava principalmente por um aspecto pouco comum: seu modo flexível de pensar. Ele dizia que “comandantes fracos buscam respostas pré-elaboradas. Líderes fortes se adaptam”. Por trás do termo “respostas pré-elaboradas” há uma intricada explicação científica que ilustra seu conceito de liderança marcado pela habilidade de romper com o pensamento cristalizado e o “pensar de baixo para cima’.

O padrão de pensar roteirizado é o dominante na sociedade, mas já destruiu as carreiras de empresários, cientistas, executivos e arruinou a riqueza de muitos homens de negócios. Mais que isso. Foi identificado como um grave risco para a medicina. Trocando em miúdos, são “ideias e princípios profundamente enraizados que desenvolvemos há muito tempo e deixamos de questionar”. Modos de pensar engessados, sem fluência, insights e dinamismo criativo. Indivíduos que funcionam sobre a égide dos pensamentos roteirizados podem ser eficientes “especialistas” como processadores de informações, mas têm uma imensa propensão a aceitar cegamente apenas ideias que se encaixam a seus padrões de pensar convencionais. Daí a resistência a aceitar as que não se encaixam, mesmo quando corroboradas por todas as evidências.

O mais curioso é que, quando alguém é especialista em algo, geralmente possui um conhecimento profundo no assunto e nos desafios habituais da profissão. O problema é que esse corpo de sabedoria convencional também atua como um entrave para criar ou aceitar novas ideias, principalmente quando em confronto com inovações e mudanças relevantes. Se a mudança é a única constante universal, como lidar com os avanços da humanidade e adquirir o pensamento flexível, e não se tornar uma espécie de locomotiva aprisionada aos trilhos das ideias?

A boa notícia é que a arte do pensamento flexível pode ser treinada. Para se ter uma ideia, em 2019 o tema é foco de grandes eventos nos EUA, como o “Flexible Thinking – In a time of change” realizado pelo Capital Group. Assim como o pensamento roteirizado é naturalmente exercitado, a ciência mostra que podemos treinar o modo elástico de pensar.

Ao consideramos um problema pela primeira vez, nosso cérebro executivo fornece um foco estreito, ignorando ideias estranhas e diferentes. Sua tendência é imediatamente enviar as respostas mais óbvias disponíveis ao que já lhe foi demonstrado como verdadeiro. Assim, os palpites do pensamento roteirizado (prontos) chegam rápido ao consciente, e os que seriam criados pelo pensamento flexível (inovações) sequer são produzidos. Alguns dos maiores obstáculos ao pensamento plástico são os roteiros diários, hábitos enraizados, o baixo acúmulo de informações alternativas, a impaciência, a pressão, o estresse, a carência de ócio inteligente, a irreflexão e o mal-uso da fisiologia.

Para mudar essa realidade é preciso ter garra. Quando chegar num impasse, se sentir frustrado ou com vontade de desistir, saiba que é exatamente nesse momento que se você continuar “lutando”, seu cérebro entrará em ação. A partir daí ideias mais originais começarão a surgir.