A Excomunhão da Competição

Conformar-se com os preceitos globais da competição não é politicamente trivial. O tema, recheado de preconceitos atinge em cheio principalmente aqueles que possuem baixo conhecimento das raízes da economia e do sistema capitalista. Em seu artigo “Volta da classe do privilégio e o golpe parlamentar”, Leonardo Boff, entre outras espantosas convicções, afirma sobre a corrupção, que “[…] sua lógica não se rege pela cooperação, mas pela competição, onde praticamente vale tudo, um procurando engolir o outro”. A priori, e apenas como exemplo, é importante lembrar que o nepotismo – prática deletéria de favorecimento que subjuga a competição e o mérito – foi concebido em Roma, na Idade Média, onde a Igreja, que controlava o Governo, repugnava qualquer tipo de concorrência, principalmente a dos competentes.


Para ratificar que a crítica à competição não passa de evidente deturpação, podemos citar os dados do Banco Mundial com os coeficientes de abertura de mercado em diferentes países, como forma de demonstrar o resultado da falta de competição no Brasil: Hong Kong = 433%, Alemanha = 92%, Chile = 69%, África do Sul = 60%, China = 52%, Índia = 51%, Rússia = 50%, Colômbia = 37%, e por último, Brasil = 25%. Em outras palavras, o protecionismo brasileiro, um dos maiores do mundo, estimula o atraso e a zona de conforto, e não o desenvolvimento e o incentivo.

É um sistema que recompensa os contatos e não a eficiência, os lobbies e não a inovação, a proteção da comodidade e não a evolução; e ainda a manutenção de um assistencialismo sem porta de saída, corrosivo à sociedade e ao próprio Estado. Criticar a competição é criticar a meritocracia, a liberdade, o esforço e a persistência. Não por acaso, o bilionário americano Warren Buffett afirma que “nada abafa mais a racionalidade do que doses maciças de dinheiro sem esforço”.

A fantasia de que a competição é capitalismo selvagem representa uma velha e cansativa máxima da esquerda, que exulta sistemas de demérito por conveniência própria. Margareth Thatcher dizia que “se tem alguém recebendo sem trabalhar, tem alguém trabalhando sem receber”. Um bom exemplo é o seguro-defeso (Bolsa Pescador). Em 2003, quando implantado por Lula, eram 133.790 favorecidos. Em 2012 já passava de meio milhão de pessoas (539.800) inscritas.

Impressiona como em tantos anos até 2003 haviam 134 mil pescadores, e de repente, em apenas oito anos, surgiram outros 406 mil que provavelmente nunca viram um anzol e uma rede. Quem paga a conta dos que não competem e não querem competir nós já sabemos. Quando são 3 horas em Nova York, é pontualmente 1870 no universo ideológico da esquerda.