Constelação, a técnica exibida no Fantástico
Primeiro forma-se um círculo com pessoas de todas as idades, crenças, classes e raças. Todos com problemas pessoais e profissionais a serem desmantelados por uma técnica conhecida por “constelação”. Criada pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger, foi inspirada em rituais de tribos africanas, princípios básicos da psicologia e terapias de grupo. Funciona como uma espécie de teatro em que os envolvidos na atividade (os demais são facilitadores) reconstroem de maneira fictícia, com base num breve relato, o “universo sistêmico” (imaginário) do problema colocado em questão. Os “consteladores” (condutores do processo) alegam que a metodologia permite localizar e remover o que chamam de “bloqueios do fluxo amoroso” de gerações passadas, membros da família e colegas de trabalho.
Trata-se de uma técnica que objetiva a solvência de conflitos (problemas de relacionamento, desgastes, empenhos conflituosos e traumas familiares) onde os interessados diretos experimentam situações pertinentes junto a membros do público presente. Tudo orientado por um “especialista”, que inclusive determina o que devem dizer e fazer.
O método não passa de uma terapia de grupo que agregou a dramaturgia para promover a empatia e o aprendizado. Apesar de alguns movimentos e falas dos atores serem aparentemente espontâneos, é impossível reproduzir a realidade. Tudo é ficção. A propósito, como definir “bloqueio de fluxo amoroso“, cientificamente falando? Seriam neurotransmissores impossibilitados de recaptação ou algum tipo de isquemia cognitiva? Do ponto de vista neurocientífico não faz sentido. Como se aprofundar em “motivos desconhecidos de gerações passadas” na utilização de fatores hipotéticos? Fica a pergunta.
De acordo com a ciência, amor é um complexo processo bioquímico natural acoplado a registros (memórias) associativos. Não há bloqueios ou problemas em sistemas familiares, como alega a técnica sobre o que seriam as causas. Tais alegações são apenas decorrências, e não agentes. De que vale “desbloquear” um fluxo (um rio entupido por lixo, por exemplo), se quem o bloqueia (quem lança o lixo no rio) continua a agir da mesma forma? Por mais que a técnica ajude a alguns – e isso é ótimo, o ser humano é realmente surpreendente – os resultados em geral tendem a ser paliativos e fugazes, pois a origem do problema permanece (o sujeito do lixo). Daí a importância para os agentes judiciais que as audiências de conciliação ocorram com urgência logo após a terapia, como mostrado no programa. É preciso aproveitar o “timing” emocional.
Em absolutamente todos os casos relatados (exceto patologias) e expostos à tal técnica – da qual já tive a oportunidade de participar na Califórnia (EUA) – o que há na verdade são apenas implicações de significados melhores ou piores de fatos, relações, momentos, pessoas, atitudes e outras questões. São estes significados que impedem a argumentada “fluidez” dos valores e emoções. Refaça os significados e voilá! A neurolinguística vai muito além com sua maturidade científica e temporal, pois atinge a causa (o lançador do lixo) e não a sequela, além de lançar foco sobre metas fortalecedoras futuras. Isso naturalmente cessará as decorrências. Em 40 anos inúmeros instrumentos foram criados pelos pais da neurolinguística (Richard Blander, John Grinder, Milton Erickson e Tony Robbins – este último com quem trabalhei nos EUA) para resolver tais questões, seja de ordem pessoal, familiar ou profissional, com resultados impressionantes.
No livro “Desempenho Máximo” ofereci uma constelação de ferramentas para que as pessoas solucionem casos similares sem a necessidade de terapias teatrais e expositivas. A dedicação e a entrega são essenciais. Nas empresas não utilizamos atores ou facilitadores, seria inútil alegações tão fictícias e membros externos para tratar casos pontuais que demandam recursos eficazes em conflitos singulares. Levamos os participantes a uma autognose através dos significados dos fatos e pessoas, expomos as emoções de forma direta e também paralela, e reconstruímos as relações associativas com base em contatos autênticos dos envolvidos com objetivos pré definidos. Ciência com coerência!
Na constelação é comum toda uma tempestade emocional momentânea, o que aparentemente cria uma falsa sensação de efetividade. As lágrimas e risos são importantes, mas em muitas dinâmicas mascaram um nó de causalidade ainda não desatado, ofuscando o fator reflexivo para o necessário “readesivamento” associativo desejado. A empatia vivida pelos demais participantes também é válida. Ás vezes mais do que os próprios envolvidos no teatro. O que não se deve cometer é o velho e insistente erro que torna a psicologia tradicional tão ineficaz, pois debate excessivamente o problema, cria alucinações metafóricas sem sentido para explicar ciência e, como de costume, ignora o pragmatismo da solução. As estatísticas estão claras: sem ciência todo o empirismo superficial é loteria. O teatro da vida não permite ensaios. Ou usamos recursos científicos com resultados comprovados, ou muitos inocentes viverão como estrelas cadentes nas mãos desses artistas.